Rui Pires, 1976
Não sei ao certo como começou esta conversa. O que é sempre um bom sinal. Encontrámo-nos no Porto, eu, a Catarina e o Rui, numa movimentada tarde de terça-feira. Cumprimentámo-nos, entre uma garrafa de Avesso (nota de prova aqui), e alguns minutos depois já o Rui recitava o nome de castas, projectos, viagens, (muitas) ideias.
Foi há cerca de um ano que Rui Pires recebeu um convite para gerir a parte comercial da empresa AB Valley Wines, um projecto recente idealizado por Bernardo Lencastre e António Sousa na região dos Vinhos Verdes. Com agrado, Rui aceitou o desafio e o seu último ano profissional tem sido frenético. Após muito trabalho de divulgação e viagens a lugares como Düsseldorf, Tóquio ou Nova Iorque, os vinhos AB Valley encontram-se agora, além do nosso país, em mais treze destinos. Em Portugal, o acordo com a distribuidora Vinicom é uma realidade recente. E ainda bem para todos nós, que assim poderemos deliciar-nos com os vinhos resultantes deste projecto tão inovador e curioso.
Curioso é também o percurso profissional de Rui Pires, que fez parte da sua formação na minha estimada Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Antes disso, ainda cursou Direito, mas não conseguiu ultrapassar o aborrecimento de algumas aulas. Na Faculdade de Letras, optou por Filosofia, o que, consequentemente, o levou a dar aulas durante dez anos (até 2012) no Ensino Secundário. Rui gostava da parte lectiva, de assistir ao desenvolvimento do pensamento crítico dos alunos. Mas os aspectos burocráticos e rotineiros eram exaustivos. Decidiu, então, mudar radicalmente de vida. Fez um curso de cozinha e chegou a trabalhar no Sheraton. Até que em 2014 se inscreveu na FEUP, no Mestrado em Inovação e Empreendedorismo Tecnológico. Falta-lhe apenas concluir a tese, cujo tema explora a relação entre empresas de vinho e Universidades na região dos Vinhos Verdes. Este último ano, tão agitado e desafiador, não tem ajudado à concentração do acto de escrita.
Contudo, nota-se que Rui Pires é um homem feliz. Gosta de desafios, acredita naquilo que faz. Aprecia a liberdade criativa que existe neste novo ofício, onde viajar é uma exigência constante. Rui gosta e agradece a oportunidade de conhecer novos países. Mas simultaneamente é cansativo. Ausentar-se de casa, não ter mais tempo para estar com a mulher, Bárbara, e os filhos, Carolina (3 anos e meio) e Tomás (9 meses), é o que mais lhe custa. Daí que não hesite em responder “família” quando questionado acerca de como gosta de passar o seu tempo livre.
Terminamos a conversa falando sobre outros vinhos e regiões. Rui não é esquisito, gosta daquilo que é bom. Após alguma insistência nossa, acaba por destacar a casta Riesling e, em Portugal, os vinhos do Dão. A capacidade (e a qualidade) do envelhecimento de alguns desses vinhos fascinam-no. O tempo passa e, lá fora, já o céu carrega escuridão. Agradecemos a simpatia do nosso entrevistado. Uma visita a Amarante fica agendada para breve.